Passagens de um Memorial – Marosa di Giorgio

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“Aquela rapariga escrevia poemas; deixava-os perto dos nichos, das taças. Era quando andavam nuvens pelos quartos, e vinha sempre um grou ou uma águia beber chá com a minha mãe.
Aquela rapariga escrevia poemas irritados e doces, com sabor a pêssego e a osso e a sangue de ave. Era nos velhos Verões na sua casa, ou no Outono com as neblinas e os reis. Às vezes aparecia um druida, um monge emergia do meio do bosque, e estendia a mão esquelética, e a minha mãe oferecia-lhe chá e fingia que rezava. Aquela rapariga escrevia poemas: deixava-os perto dos nichos, das lâmpadas. Às vezes, as nuvens entravam, o vento de Abril, e levava-os; e lá no ar cintilavam eles; então, juntavam-se a lê-los, muito contentes, as borboletas e os santos”.

(p.23)

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Descrição

Passagens de um Memorial
Marosa di Giorgio

tradução: Miguel Filipe Mochila
selecção e prólogo: Leonardo Garet

Cutelo Edições, 2022