Ainda Não – António Manuel Couto Viana

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Ainda Não foi o último livro publicado em vida por António Manuel Couto Viana (Viana do Castelo, 1923 – Lisboa, 2010). Poeta, ensaísta, dramaturgo, figurinista, dirigiu, conjuntamente com David Mourão-Ferreira e Luís de Macedo, as páginas de poesia da célebre revista literária Távola Redonda.

O autor de Avestruz Lírico (1948), dono de uma arguta e refinada ironia, despede-se neste livro da poesia e da vida (não serão enfim só uma e a mesma sina?) como se somente houvesse esquecido uns trocos em casa para pagar o café e não tarda nada regressasse para escrever mais um verso:

“Poesia, mãe do poema,
Embala, mais uma vez,
A inspiração que for tema
Do poeta português.

(…)

Mas não a deixes dormir:
Desperta-a:
Deixa-a sentir
Que nasceu do poeta.

(…)

Ainda não
A encerres num caixão
Envolta numa mortalha.

Não lhe ouves o coração
Como trabalha?”

(p.7)

Mais do que “velho e antigo/ No ideal, na estética, no gosto”, como o poeta sobre si mesmo afirma, parece haver o anacronismo próprio de quem se desvia das modas, preferindo dialogar com todos os tempos e todas as vozes: seja um poeta contemporâneo e conterrâneo, como Cláudio Lima (p.34) ou um velho e sábio amigo como Platão: “E que novas há/ do sábio Platão?/ No banquete, já/ Lhe entendeste a mão?” (p.37). O leitor, inclusive, também é convocado à festa dos seus 85 anos: “Amigos, podeis entrar!/ (Deixei a porta no trinco),/ Pra convosco festejar/ Este meus 85” (p. 47). E o próprio sujeito fala consigo, como se de um velho parceiro se tratasse: “Vaidade de velho? Sim./ Há mais que mais ames?” (p. 45).

Se o poeta deve ser moderno, porta-estandarte de uma vanguarda ou, tão-somente, ajeitar o metro de fato e gravata para ser melhor apreciado: Couto Viana parece tê-lo ignorado. Até ao fim disse: E ainda não. E ainda bem.”

– Hugo Miguel Santos

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Descrição

Ainda Não
António Manuel Couto Viana

com capa de Juan Soutullo
composto e paginado por Pedro Serpa
Averno
1ª edição
2010

 

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