«Nos ensaios que compõem este volume, o leitor – tal como eu próprio, ao escrevê-los – encontra-se sempre com Walter Benjamin em espaços nos quais o pensamento se demora em zonas de passagem, limiares que, espera-se, permitirão vislumbrar alguns núcleos importantes da sua Obra. No movimento de um pensamento como o de Benjamin – que, de facto, é móvel e move, é enigmático e luminoso – é sempre mais significativa a deambulação por essas zonas de abertura do que a passagem da linha de fronteira que delimita problemas,
com a pretensão de chegar à sua solução e fixação. Benjamin e o seu método de pensar participam em alto grau da natureza do que é a um tempo oblíquo e transparente, configurando-se num modo de pensamento essencialmente prismático.
Prismas poderia também ter sido o título deste livro, se Adorno o não tivesse já dado a um dos seus. Os ensaios que aqui se oferecem à leitura não têm outra ambição que não seja a de projectar alguma luz refractada a partir dos textos de Benjamin, ficando-se pelos limiares do seu pensamento em alguns domínios e temáticas que o marcam e que, entre muitos outros, apelaram para o meu olhar. Eles prolongam- -se, ainda e sempre em múltiplas zonas-limite, no Diário para Walter Benjamin, manuscrito e com colagens, que constitui a segunda parte deste livro, trazendo frequentemente o pensamento de Benjamin até ao nosso próprio tempo, ampliando e complementando algumas da suas reflexões maiores, para descobrir nelas um potencial de actualidade para o qual remete o título do livro – A Sobrevida das Ideias –, que aproveita um termo-chave cunhado por Benjamin (Fortleben = sobrevida). O Diário foi nascendo, primeiro entre 2003 e 2007 (em ligação com os primeiros quatro volumes da edição portuguesa), depois em 2016-17 (a partir de temas e tópicos suscitados pelas Passagens de Paris). Cruzam-se, assim, neste livro, as reflexões mais elaboradas dos ensaios com as mais circunstanciais das entradas do Diário, que se completam e mutuamente iluminam.»
Extraído da introdução de João Barrento