1966, Lisboa. Salazar contra o Marquês de Sade em tribunal. Réus: uma mão cheia de colaboradores da primeira edição portuguesa de A Filosofia na Alcova. Resultado: quatro condenações inapeláveis e um suicídio.
Meio século após o termo do primeiro processo por “abuso de liberdade de imprensa” movido e levado a cabo contra um editor pela publicação de um livro durante o Estado Novo, este volume procura, ao mesmo tempo, lembrar e contar essa acção judicial, e recuperar o texto de Aníbal Fernandes, o único que, passados mais de vinte anos, recordou o processo e o julgamento, numa altura em que o editor Fernando Ribeiro de Mello e as edições Afrodite estavam já quase completamente esquecidos.
De Paris — onde Jean-Jacques Pauvert publicara em 1953 a edição de La Philosophie dans le Boudoir de Sade cujo exemplar guardado em casa do pintor Cruzeiro Seixas chegará, 12 anos depois, às mãos do incipiente editor Ribeiro de Mello — a Bissau — onde em 1970 arderão os últimos exemplares que tinham escapado à punição do fogo pelas autoridades portuguesas — esta história passa ainda por Luanda (onde se congemina uma raríssima homenagem ao divino marquês nas páginas do suplemento literário do diário ABC) antes de se desenrolar em Lisboa entre o Verão de 1966 e o Inverno de 1967, no ritmo irregular desse tribunal sui generis que era o Plenário da Boa Hora.