“ESTRANHOS EM CASA
Somos todos estranhos na nossa casa,
animais extensos sem fundo ou face.
As vozes envolvem-nos.
Dobradiços, fazemo-nos confortáveis
nos leitos precedentes.
Temos eras a afluir-nos aos maxilares,
aos ossos que hão-de servir para outros
baterem nas eras futuras.
inscrevemo-nos em cartas sem remetente.
Não sabemos o que dizemos.
Astros cintilantes que rapidamente
se precipitam em combustão, doentes
de tudo, somos pedra e água, tigre e fumo.
Estranhos em casa, quero dizer, passageiros,
acessos, carne engolfada, tendão.
Estranha em casa quando ouço um trovão
entranhado nesta língua.
(p.57)