O que fazer? O mais revolucionário a fazer é: começar a parar.
Grande parte dos textos que aqui se publicam, agora de forma mais sistematizada, resultaram de versões anteriores publicadas em pequenos ensaios de jornal ou revistas culturais (Jornal Económico, revistas Electra e Cintilações).
Este pequeno livro questiona o tempo social dos nossos dias, industrializado, sem entropia, medida imposta, que nos torna individual e colectivamente reféns do passado da nossa sociedade, que nos agarra a um presente omnipresente e que rarefaz a realidade do futuro. Este desequilíbrio é resultado de uma concepção do tempo que sem dúvida serve melhor do que outras ao sistema de dominação social, económica e política vigente. Mas é possível começar a pensar e lutar por outras concepções de tempo que, em vez de dominarem, emancipem.
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O que fazer? O mais revolucionário a fazer é: começar a parar. E a pergunta revolucionária deve ser «porque continuamos a sobreviver? », não no sentido de a sobrevivência ser inverosímil e nos devermos perspectivar em vias de extinção, mas sim no sentido de que a melhor garantia da nossa sobrevivência como espécie é pararmos de nos comportarmos como sobreviventes. Somos induzidos a sobreviver quando deveríamos optar por viver. Importaria que nos pensássemos não como já estando num processo catastrófico, dentro de um cataclismo planetário, mas, tudo ao contrário, como já estando na posse de todos os meios para deixar de ter a sobrevivência como sentido de vida.
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E se é preciso fazer vingar políticas libertadoras do tempo, para pararmos de sobreviver, a força revolucionária do ir parando está em irmos fazendo greve no sentido mais profundo que encontramos para a palavra, parar não uma actividade produtiva em particular, por exemplo operários, professores ou médicos, nem sequer todas na forma de uma greve geral, mas parar a estrutura que tornou tudo imparável, a ditadura que nos impuseram na forma de tempo. Façamos greve a este tempo, deixemos os relógios em casa, restauremos um tempo sem medida, sem indústria, sem valor de mercado. Um tempo de viver.
[André Barata]