«A geração de Foucault (1926-1984) é aquela que, no imediato pós-guerra, assiste à proeminência da fenomenologia e do existencialismo nos meios filosóficos e culturais franceses, mas também à omnipresente influência da geração anterior que viveu a resistência, com Jean-Paul Sartre à cabeça. Com os da idade de Foucault, a época é já a da transição entre os últimos anos da reconstrução e os anos brilhantes de quantos, discípulos desobedientes daqueles mestres, lhes escapam rumo a um mundo de que o Maio de 68 constituía a grande promessa.
Sem esta alusão, sumaríssima, não poderíamos começar a compreender como foi possível à geração de Foucault o desassombro, a obstinação, a alegre ferocidade com que ela dá os primeiros passos na senda de vários “pós”: pós-estruturalismo, pós-marxismo, pós-modernidade. (…) A arqueologia do saber constitui o eixo das problematizações foucauldiana, aquele por onde passam, em filigrana, todos os fios das sucessivas etapas de um pensamento que se procura a si próprio, reactivando objectos de análise e reformulando posturas analíticas.»
António Fernando Cascais, Nota de Apresentação
MICHEL FOUCAULT (1926-1984) é um dos grandes nomes das ciências sociais e humanas das últimas décadas. A sua produção científica cobre diversas áreas, com trabalhos pioneiros em sociologia, história e filosofia. Tendo-se dedicado ao estudo crítico das instituições sociais, mas não só, publicou obras sobre domínios tão diversos como a psiquiatria, a loucura (História da Loucura na Idade Clássica), o sistema prisional (Vigiar e Punir) a sexualidade humana (História da Sexualidade), o poder e as ciências sociais (As Palavras e as Coisas. Uma Arqueologia das Ciências Humanas, por Edições 70, e Arqueologia do Saber, Almedina, 2006).