“identidade
na secção de história da arte da biblioteca pública
havia um livro sobre as representações da morte e da ressurreição.
enceno em frente ao espelho uma dessas imagens.
enquanto tiro a gravata e decido que a identidade é uma escolha,
de cujos elementos me vou libertando,
em busca de autenticidade,
como quem se despe pela casa no final de um dia de trabalho.
porque esta vida é reparada sempre em alto-mar,
sem nunca poder começar nada de novo,
caminho e dispo-me pelo corredor,
desajeitado e com um sono de raízes profundas,
cada peça de roupa largada com o peso de muitas tempestades.
e, quando me deito ao teu lado, já não sou ninguém”.
(p.18)