Sóror Juana Inés de la Cruz
“LIIII
Não quer passar por esquecimento o descuidado
Dizes que eu te esqueço, Celio, e mentes
em dizer que me lembro de esquecer-te,
pois não há em minha memória alguma parte,
em que, inda como esquecido, te apresentes.
Meus pensamentos são tão diferentes
e em tudo são alheios ao tratar-te,
que nem sabem se podem esquecer-te
nem se te esquecem, sabem se o sentes:
Se tu fosses capaz de ser querido,
fosses capaz do esquecido; já seria glória,
ao menos, a potência de teres sido.
Mas tão longe estás dessa vitória,
Que este não lembrar não é esquecido
senão uma negação da memória”.
(p.121)