«Nestas cartas, todas elas escritas na última estação da vida, a mais fria e nua, não há sarcasmo ou o azedume seco de um homem velho. O que lá encontramos é antes gozo infantil, inocente, generoso, capaz de fazer justiça ao certeiro perfil que lhe tirou Raposo Nunes no dia em que lhe editou os Textos Sadinos, um menino de asas e calças curtas, sobrevoando galáxias, rindo muito, falando mais e espalhando felicidade com a sua língua de oiro, uma espécie de Peter Pan à portuguesa conduzindo a sua turma até às estrelas e lutando sem descanso contra os trafulhas da cultura e os piratas das Letras. Daí as carinhosas interpelações ao destinatário, as brincadeiras consigo próprio (a caminho algumas vezes do Paraíso, outras da Academia), as travessuras com a língua.»