“Este livro reúne a maioria dos livros publicados por José Carlos Soares (1951, Leça da Palmeira) entre 2011 e 2018.
Costuma acentuar-se nesta poética uma certa atracção pela concisão e pela elipse. No entanto, seria erróneo colocá-la nessa trincheira de poetas que, a partir da segunda metade do século XX, foram confundindo abstraccionismo com malabarismo verbal. Mais do que uma poética da rarefacção, trata-se, pois, de uma poesia atenta à potência de universalidade que existe em cada pequeno objecto ou gesto. Daí a recorrência dos pequenos insectos, dos “ossos”, das “víboras”, tal como dos “cães” ou de um galo antecipando “a tosse/ de um pequeno deus// desempregado”. Estes poemas, com a sua configuração de “mínimas molduras”, como escreveu Manuel de Freitas, escapam à narratividade para nos apresentar essa secreta verdade latente no tempo, enquanto eco, ou na memória, como fragmento: “Nada obterás/ a não ser a perda,// a cor cega/ que dento já separa/ a paz secreta” (p. 37).”
Hugo Miguel Santos