Ao lado da exploração — que continua a existir, e até em proporções gigantescas —, é a criação de uma humanidade «supérflua», ou mesmo de uma «humanidade-lixo», que se tornou o principal problema criado pelo capitalismo. O capital já não tem necessidade da humanidade e acaba por se autodevorar.
O mito grego de Erisícton, o rei ganancioso que, ao violar a natureza, foi amaldiçoado pelos deuses com um apetite insaciável e se devorou a si mesmo, é o ponto de partida deste livro e a prefiguração da sociedade actual. Ensaio sobre o narcisismo contemporâneo, os mecanismos autodestrutivos da nossa época e a sua relação com o neoliberalismo desenfreado, A Sociedade Autofágica traça o retrato de um mundo que, como Erisícton, parece devorar-se a si próprio.
Em diálogo com a tradição psicanalítica e a sociologia, de Sigmund Freud a Erich Fromm e Christopher Lasch, e rejeitando as ilusões de um sujeito livre e autónomo, forjadas pelas Luzes, Anselm Jappe prossegue neste livro a sua reflexão sobre a crise do capitalismo (já encetada em As Aventuras da Mercadoria), que não só destrói o planeta, pela sua abordagem predatória, mas também a réstia de humanidade no novo homem descartável, revelando o advento de uma nova subjectividade e as coordenadas de uma significativa regressão antropológica.