Estética de um só esteta, a poesia de Manuel António Pina não deixou descendência, não encorajou epigonismos e continua, hoje como ontem, a destoar das aventuras e desventuras poéticas contemporâneas. No mesmo poema, o sujeito é capaz de se deslocar do pequeno episódio doméstico, sem brilho, à “coisa imensa” que lampeja na noite do ser. A sua obra solicita desenvoltura especulativa e pressupõe no leitor apetência para aflorar uma qualquer descoberta fundamental algures onde a poesia se cala.