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Tempestade no mar, digamos no mar, no ar, gaivotas
Voam em círculos, salpicos, sobre os semáforos
E então, e então, vais atrasado, pára lá com os pássaros
Safa-te, ainda apanhas o comboio, corre que podes
Mexo-me, chego-me às paredes cinzentas, nado rápido
O céu tem a cor das paredes, das tempestades, digamos, o chão
De água escura, grãos de asfalto correm ali ao lado
Anda, vê as folhas a cair, conheces estes plátanos de há muito
Viveste anos com as árvores gigantes, devias saber respirar
E dormir melhor, olha para cima, bifurca-te, cai também
E que já quase não restam folhas, nada de tristeza, aprende
A cair de sono, ramifica-te pela noite, sonha plátanos
Abstrai os prédios sem graça onde cresceste, deixa-os além da margem
Corre pelas veias dos plátanos e as outras árvores sem nome
Foge da chuva, os braços nus estão na deles, não te agasalham
Tempestade na terra, no mar, folhas esborrachadas
Salpicos, peixes, explodem sobre o vidro, desvio-me do piano
Oiço-os ao fundo da sala, martelo as cores lá fora
Não neva, contenta-te com o branco das paredes, nunca neva, basta
O cinzento das paredes, debaixo da abóbada cinzenta
Digamos a acalmia que chega com a noite, os projectos
De sonho, de pequenas manchas de amarelo sobre branco e verde