Cabeça Desfeita
se eu realmente soltar minha cabeça vai dar um bode medonho
minha cabeça antes de tudo não é cabeça nem minha
ela não passa de uma jarra vazia e eu que a carrego sou tudo
sou muito mais e muito menos porque a loucura do corpo
tanto se retrai comedida como se expande indefinidamente
minha cabeça o que carrega são colírios relâmpagos
pisadas bruscas na visão do instante comícios
domésticos insinuações de procura
mas nada disso a consegue preencher finalmente
e ela escorrega
em qualquer circunstância debruçada no cabide dos dias
se eu soltar a cabeça
a jarra quebra. Que fazer com seus flocos
azuis? Que milímetro exato antecipar ao passar
com uma flor nos ombros?
no intervalo que me separa de mim
quando eu me desmonto na lua
essa cabeça que no máximo eu sigo
diz que eu preciso me tornar seu amigo
para refreá-la