“É ao nível do recorte sensível do que é comum à comunidade, das formas da sua visibilidade e da sua organização, que se coloca a questão da relação estética / política. É a partir daí que podemos pensar as intervenções políticas dos artistas, desde as formas literárias românticas de decifração da sociedade, até aos modos contemporâneos da performance e da instalação, passando pela poética simbolista do sonho ou pela supressão dadaísta ou construtivista da arte. A partir daí podem voltar a pôr-se em causa inúmeras histórias imaginárias da “modernidade” artística e debates infindáveis acerca da autonomia da arte ou da sua submissão política. As artes só emprestam aos projetos de dominação ou de emancipação aquilo que lhes podem emprestar, ou seja, muito simplesmente, aquilo que têm em comum com eles: posições e movimentos dos corpos, funções da palavra, repartições do visível e do invisível. A autonomia de que elas podem usufruir ou a subversão que podem reivindicar assentam sobre esta mesma base” — Jacques Rancière. Nesta obra explora-se o que estética e política têm em comum: a delimitação do visível e do invisível, do audível e inaudível. Percorre-se a história da arte e da política desde a polis grega até à contemporaneidade, analisam-se os usos e abusos do conceito de «modernidade», a relação das artes com a sua reprodução mecanizada, a lógica dos factos e da ficção na história, a contradição positiva na literatura, a politicidade das imagens e artes nos regimes «ético», «representativo» e «estético», no que constitui a apresentação mais abrangente ao pensamento estético e político de (e por) Jacques Rancière.
Jacques Rancière (n. 1940), filósofo, é professor emérito da Universidade de Paris VIII, onde leccionou estética e política. Entre as suas obras destancam-se O Mestre Ignorante. Cinco lições sobre a emancipação intelectual (1987; tr. pt. 2010), La Mésentente. Politique et philosophie (1995) e Estética e Política. A partilha do sensível (2008; tr. pt. 2010), O Destino das Imagens (2003; tr. pt. 2011), A Fábula Cinematográfica (2001; tr. pt. 2011) e de Nas Margens do Político (1998; KKYM, 2014) onde apresenta as suas incisivas Dez Teses sobre a política.