A PAREDE
Havia uma parede de adobe
sem revestimento onde se encostava a minha cama.
De madrugada, o meu nariz contra a parede
aspirava o seu cheiro profundo: terra
trazida do barranco onde se entreteciam,
como num arabesco, raízes mortas de pasto.
Nas minhas costas a minha família dormia apinhada
como uma tribo acampada num sítio arruinado.
Então eu punha a minha língua na parede
para deixar uma mancha húmida antes de partirmos.
(pág. 164)