Este livro oferece pela primeira vez aos leitores portugueses uma passagem determinante no percurso literário de Antonin Artaud, a correspondência que trocou com o editor da La Nouvelle Française, Jacques Rivière. A recusa de publicação dos poemas que Artaud enviara dá o mote a um debate estético que depressa se afasta do seu pretexto inicial. Nestas cartas, que acabaram por ser publicadas na revista, e que o autor colocou como antecâmara das suas Obras Completas, Artaud desloca o olhar das estranhezas dos seus poemas para a estranheza maior que era ele próprio, e pergunta: «diga-me se alguma obra literária é compatível com tais estados?» Justifica-se, desvenda-se, esmiúça-se, defende-se e arreganha os dentes, insiste em existir. E nisto desbrava o terreno que a sua obra futura viria a ocupar. Artaud inventa Artaud.
Tradução e prefácio de Miguel Cardoso. Desenhos de Maria Lis.