Confesso que vivi

10.00

Pablo Neruda

“Estas memórias ou recordações são intermitentes e por vezes fugidias na memória, porque a vida é precisamente assim. É a intermitência do sono que nos permite aguentar os dias de trabalho. Muitas das minhas recordações desvaneceram-se ao evoca-las, ficaram em pó como um vidro irremediavelmente ferido.

As memórias do memorialista não são as memórias do poeta. Aquele viveu talvez menos, mas fotografou muito mais, recreando-nos com a perfeição dos pormenores. Este encarrega-nos uma galeria de fantasmas sacudidos pelo fogo e pela sombra da sua época.

Não vivi, talvez, em mim mesmo; vivi, talvez, a vida dos outros.
De quanto nestas páginas deixei escrito se desprenderão sempre – como nos arvoredos de Outono, como no tempo das vindimas – as folhas amarelas que vão morrer e as uvas que reviverão no vinho sagrado.
A minha vida é uma vida feita de todas as vidas – as vidas do poeta”.

(p.7)

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Confesso que vivi
Pablo Neruda
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