(A)colher o que Está Perdido – Golgona Anghel

12.00

Inscrito nas periferias dos valores de uma sociedade profundamente hierárquica, o quadro de Hoppner aparece-nos como gesto gratuito, fora do círculo de poder dos comanditários, mas também como fruto da generosidade de quem concede (ou, ao menos, de quem pensa ter esse dom) o direito à memória que a barbárie lhe tenha retirado. Apanhada a caminho — talvez da casa que se avista ao longe —, a figura da camponesa, em posição erecta, ocupa o lugar central, no primeiro plano de uma paisagem rural, cheia de arvoredos banhados em tons outonais, cuja mansidão cromática surge imersa na luz dourada do crepúsculo. Embora esteja a ocupar uma posição de destaque, a rapariga está perto das margens, perto de um espelho de água, tão quieto quanto a espera, tão opaco como se a noite emanasse dele. Quem sabe a própria camponesa-ninfa não seja consequência do seu exalar, da sua quase respiração do lago? O espelho de água serve de pano de fundo, mas concentra à sua volta — em roda, distribuindo-os nas suas orlas — a rapariga, o arvoredo e as casas, ao longe, na outra margem, onde, apesar da distância, ainda se consegue entrever uma pequena chama de uma fogueira e o respectivo fumo, que ao subir acaba por confundir-se com o céu.

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Descrição

(A)colher o que Está Perdido
Golgona Anghel

Documenta, 2024
60 p.
9789895681761

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