6 Dezasseis-noves de Fotografias a 4 Cores
Série de imagens produzidas através de capturas de ecrã realizadas sobre fotografias.
No final da edição de uma fotografia costumo visualizar a imagem com a escala a 100 %, em modo “tela cheia” (“fullscreen”). Por vezes o enquadramento do ecrã, em proporção 16:9, surpreende-me. É dessa surpresa que nasce cada uma destas imagens.
“16 dezasseis-noves de fotografias a 4 cores
Na história das famílias do final do século XX, há uma parte da memória que se conta a cores e outra a preto e branco. A memória colorida divide-se em diferentes tipos, de acordo com a predominância dos magentas, verdes, azuis ou amarelos. São memórias impressas que variam também na textura, na gramagem e brilho do papel que habitam. Invariavelmente, em todas elas, sentem-se as variações que o tempo lhes introduziu: riscos, pó, oxidações ou o tom deslavado provocado pelos raios ultravioleta. Por vezes, somos surpreendidos quando uma dessas imagens quer escapar às rasuras e atritos do tempo, mantendo-se atemporal. Ou quando, de forma singular, uma imagem irrompe colorida num meio dessaturado, desenquadrada do imaginário técnico da sua época.
As histórias do século XXI serão enquadradas nas fases pré-Facebook, Facebook, Instagram. Dividiremos o século em pequenas parcelas agrupando as fotografias das primeiras câmaras compactas digitais, das primeiras DSLR, das fotografias em formato ao alto 16×9 de telemóvel, em grupos de imagens de baixa resolução, HD, 4k, 24 mpx, 50 mpx…
16 dezasseis-noves de fotografias a 4 cores é um trabalho que fui desenvolvendo na segunda década do século XXI, enquanto editava fotografias de uma Canon 5D Mark II, com o Adobe Lightroom, num iMac. Resultam da prática quotidiana do trabalho de laboratório digital. No fim da edição de cada imagem, costumo vê-la em modo 100 % para observar a cor e a textura. Quando sou surpreendido pela nova imagem que me é apresentada no ecrã pela moldura em formato 16×9, faço um «screenshot».
Os critérios para agrupar estes recortes nascem maioritariamente do prazer de os olhar em conjunto, de uma vontade de organização cromática, espacial e geométrica. O conjunto de dezasseis-noves que aqui se apresenta foi feito dessa forma, mas também atendendo à tensão entre representação e apresentação, entre referente e imagem, planificação e profundidade. Na planura do monitor emergem por vezes elementos que, como o monitor 16×9, são referência de uma época e de um país, como se, por mais plana que seja, a imagem não possa escapar às condições materiais em que nasce. O salto do ecrã para o papel pode parecer não fazer sentido nem justiça a estas imagens. Mas não faz mal. Afinal, não é uma surpresa ver uma fotografia a cores de um tempo em que tudo era dito a preto e branco?”