Pedro admira as ferrugens, os podres, os descascados. Dos objetos, dos lugares e das pessoas. Fotografa-os com a intensidade brutal e delicada de sua personalidade. Por isso estávamos ali. Durante três dias rodamos setecentos quilômetros pela região portuguesa onde ele tinha fotografado seu trabalho mais recente: os incêndios florestais de 2017 e 2018. Melhor dizendo, o rastro de destruição e tragédia deixado por eles.
[…] Nestes tempos em que a memória virou bugiganga chinesa comprada em loja de suvenir, a fotografia do Pedro é um grito inconveniente. Há anos o seu percurso artístico está assentado sobre ruínas, catástrofes, desmoronamentos e decrepitude. Começou nos anos 2000 com uma série de imagens em grande formato feitas em favelas. Passou por cadeias, prostíbulos, igrejas, pedreiras, o Alentejo, símbolo do Portugal arcaico que se vai perdendo, e agora o fogo. Tudo fotografado com reverência de arquiteto, mergulho de etnólogo e certa aflição de quem, na beira do precipício, encara a finitude.
[Christian Carvalho Cruz]