«Os diálogos que se seguem, e que nos recordam o Fedro, O Banquete ou o Timeu, são textos de um filósofo sobre arquitectura, dança e poesia, mas não pretendem desenvolver uma estética filosófica, no sentido que a filosofia moderna deu a este termo. […] Valéry não reflecte numa forma arquitectónica específica, num bailado em particular, num poema, mas nos princípios que presidem à criação de qualquer edifício, dança ou poema. […] O diálogo sobre o arquitecto passa-se no reino dos mortos, apresenta o ponto de vista da eternidade à luz do qual se invertem os anseios do filósofo. No diálogo sobre a dança, trata-se, ao invés, de uma perspectiva que se liga com a experiência de estar vivo e ter um corpo. […] Para Eupalino, só na obra de arte se podem juntar e responder mutuamente o corpo e a alma, “esta presença invencivelmente actual e esta ausência criadora que disputam o ser”, “este finito e este infinito que nós transportamos”. Por sua vez, a bailarina d’A Alma e a Dança mostra “claramente às nossas almas o que os nossos corpos executam de forma obscura” — ensina-nos, diz Fedro, no fim de contas, a conhecermo-nos melhor a nós próprios, cumprindo a mais filosófica das tarefas.»
MARIA JOÃO MAYER BRANCO