Traduções de Joana Santos e André Simões
um poema de Jehan Bseiso:
“DEPOIS DE ALEPO
Aprendi a ler cedo.
Mas a verdade é: por vezes gostava que as letras per-
manecessem desenhos por mais tempo, antes da tirania
das palavras aparecer sem convite, e
antes que outras línguas encontrassem na minha
grande boca uma casa.
Não o digo literalmente.
Um dia, vamos voltar a Alepo, disseste tu.
Não o dizes literalmente.
Habibi, há quatro anos gritávamos por mudança,
e agora somos cidadãos de fronteiras.
Vamos da Turquia para o Libano, para o Egipto,
mas sem encontrarmos Alepo.
Temos cupões de alimentação, e, critérios de
assistência, e, empatia intermitente.
Já não escrevo mais poesia.
O barco está a afundar,
literalmente,
mas eu não quero sair deste quarto.
Cheira a jasmim e tu sabes a liberdade”.
(p. 56 e 57)