Org. Wilson Alves-Bezerra e Jefferson Dias
“Um poema de Raquel Gaio:
(SOU UMA MULHER QUE TRAZ NO DORSO A
SEDE DE UM PAÍS DEVASTADO
Sou uma mulher que traz no dorso a sede de um
país devastado, e nas mãos a feição do incontornável.
Avanço por um solo estreito e aspiro nessa terra os
corpos que não conheci. Escavo os rostos, a ave morta,
a palavra imunda: só o oco sobrevive.
Sou um animal expatriado que possui alianças com a
rachadura. Algo em mim foi extinto, em meus ossos
cresce uma nova vegetação e a água escura que antes
habitava os pulmões agora se tornou uma nova língua.
Sou uma mulher que possui pactos com a doença,
caminho recolhendo vestígios de uma civilização antiga,
e em vigília, inauguro uma nova pobreza. Reparto a dor
animal e trago este dano: a violência de uma respiração”.
(p.185)