Secreções, Excreções e Desatinos

8.00

Rubem Fonseca

Leeuwenhoeck, que era dono de um armarinho, inventou o microscópio para ver micróbios. Ele se masturbava e depois examinava o próprio esperma para contemplar aquela miríade de minúsculas criaturas, que possuíam cabeça e cauda, mexendo-se alucinadamente, seres que foi ele o primeiro no mundo a ver.
Godofredo leu isso num livro. Inspirado em Leeuwenhoeck, comprou um microscópio para examinar o seu esperma. Mas enquanto o holandês examinou outras secreções e excreções do seu próprio corpo – fezes, urina, saliva – Godofredo se interessou apenas pelo sémen. Até então, tudo o que ele conhecia sobre esse fluido era o seu cheiro de água sanitária, e também o facto de que continha espermatozóides que podiam engravidar uma mulher. A água sanitária, ele leu em uma garrafa desse desinfectante que tinha em casa, era feita de hipoclorito, hidróxido e cloreto de sódio. Mas aqueles pequenos animais que ele via na viscosa secreção esbranquiçada ejaculada pelo seu pénis e lambuzada na lâmina do microscópio não poderiam viver num líquido que servia para limpar vasos sanitários, ralos, pias e latas do lixo.

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Descrição

Secreções, Excreções e Desatinos
Rubem Fonseca
Campo das Letras, 2ª edição, 2003

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