A. M. Pires Cabral
Raquel e o Guerreiro conta uma história de amor culposo, contraponteada de pequenas histórias marginais, em que transparece a alma transmontana, na sua atracção pelo lado trágico da vida e no seu gosto pelos temas da afronta, da vingança e da expiação. Estas histórias são casos exemplares e funcionam um pouco como a play within the play, isto é, procuram ser uma voz do passado a influenciar o presente.
Raquel, a fidalga da Casa do Marco, que mantém uma ligação com Narciso (um médico sem escrúpulos muito mais jovem do que ela e mais interessado no seu dinheiro do que no seu amor), é uma mulher em acelerado processo de deterioração física, mental e moral, mas simultaneamente combate com comovedora coragem pela dignificação da mulher e pela afirmação dos seus direitos numa sociedade rural ferozmente adversária daquilo por que ela luta.