Quando a Lua desce à Terra – Jorge Sousa Braga

14.00

UMA HISTÓRIA

O mundo nunca está preparado
para a chegada de uma criança

Os nossos navios têm ainda de regressar de Vinland
Temos que atravessar o desfiladeiro de S. Gothard
e iludir os guardas nas areias de Thor
Temos que nos esgueirar pelos esgotos
até ao coração de Varsóvia
Esperar pela queda do ministro Fouché
Levar uma mensagem a Harald o rei
Só num lugar como Acapulco
poderíamos começar de novo.

Temos de nos safar com água pensos rápidos e sorte
Não temos nem camiões nem o apoio dos Ming
Teríamos de ser loucos para acreditar que este macilento cavalo
seria o bastante para subornar o xerife
Ainda nenhuma palavra sobre os prisioneiros
Teremos de assegurar uma gruta quente
para o grelo e um homem que fala Harari

Em quem podemos nós confiar em Ninive nestes dias?
Qual será o próximo decreto cardinalício do Príncipe?
Quais são os nomes que constam ainda nos arquivos de Beria?
Os fios estremecem com as notícias
de que Karol o Martelo atacará ao amanhecer
Vamos, vamos apaziguar Kéops
Vamo-nos entregar
Mudar de fé
Podemos sempre fingir que somos amigos do Doge
e negar qualquer contacto com os Kwabes

É tempo de construir e acender as fogueiras
Desatar os nós dos fios de couro da tenda polar
Enviar um telegrama à avó em Zabierzuw

Que o parto seja fácil
Que o bebé aumente de peso e seja sempre saudável
Deixem-no ser feliz de vez em quando
saltar por vezes sobre o abismo
Possa o seu coração ser verdadeiro e forte
e o seu espírito agudo   Que veja longe

mas não tão longe
como seja prever o futuro
Deus o preserve
desse dom

Wislawa Szymborska
(p.7 e 8)

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Descrição

Quando a Lua desce à Terra
(poesia traduzida/várias autoras)

Traduções de Jorge Sousa Braga
Revisão de Luís Filipe Parrado

capa a partir de pintura de Artemisia Gentileschi

Língua Morta, 2023
176 pp.
500 exemplares