Projectar a ordem — Cinema do Povo e propaganda salazarista, de Maria do Carmo Piçarra, é uma investigação sobre o Cinema do Povo (1935-1954) do SPN/SNI, cinema ambulante que percorreu o país para combater o comunismo e promover o corporativismo e o Estado Novo. Lançado, em 1935, em Lisboa, onde encheu de público as praças da cidade, iniciou a itinerância após o começo da Guerra Civil em Espanha. Como na Alemanha nazi, camiões deslocavam-se às aldeias recônditas, sem electricidade, onde raramente ou nunca se tinha visto uma projecção de cinema. Ao ar livre mostravam propaganda cinematográfica a milhares de camponeses e operários.
A revolução de Maio foi longa-metragem de redenção privilegiada. Explicada por legionários, dirigentes da União Nacional, padres ou responsáveis pelas casas do Povo, projectou, no país rural e analfabeto, a imagem do Estado Novo concebida por António Ferro.