Miyó Vestrini
“O SILÊNCIO
O rapaz do supermercado
tratou-me por tu.
Olha, trouxe-te uma garrafa maior porque está em promoção.
Porque tenho eu de ser a que corta abobrinhas
todas as noites
a esta hora?
Contei isto a um amiga
que encolheu os ombros:
coisas do destino.
Umas cortam abobrinhas,
outras fazem amor.
A questão é que o silêncio te leve em conta.
Cheguei ao quiosque.
Uma mulher negra de rabo enorme
avisou-me:
se não compra a revista,
não pode lê-la.
Abri o livro de Hölderlin
e senti raiva do seu carpinteiro
carcereiro”.
(p.87)