Henrique Segurado
“A INVEÇÃO DO MUNDO
Fechei o passado à chave
Para ver bem o futuro.
De que me vale ser árvore
Que não tem ramo segurado?
É talvez a ventania
Que nos levanta a caliça
E que nos põe a divisa
Na geração da preguiça!
Sou cachorro obediente,
Nada ganho com o contrário.
Como cão inteligente
Faço de cão ordinário.
Já fui pastor de rebanhos
Que enchiam bem a paisagem.
Sou floresta sem ramos
Chegando ao fim da viagem.
Apenas um arquitecto
Se atrevia a construir-me,
Porém neto dilecto
Me emprestou seu modo de rir”.
(p.89)