“O filósofo Karl Jaspers chamou-lhes as figuras determinantes, decisivas. Para ele, durante o primeiro milénio antes de Cristo, mais concretamente por volta do séc. VI – época conhecida como tempo-eixo -, deu-se uma transformação essencial na consciência humana em áreas geográficas distantes e aparentemente sem interferência: Índia, China, Pérsia, Grécia e Israel. O homem passou de uma consciência predominantemente cósmica a uma consciência reflexiva, de uma consciência submersa no grupo e na colectividade a uma consciência de identidade individual e pessoal. Foi também nesse quadro que emergiu uma decisiva transformação religiosa, com a necessidade e a procura da salvação pessoal, com o aparecimento das religiões universais e uma mudança na concepção do divino, com três orientações fundamentais: o monismo, o monoteísmo, a exigência crítica racional na sua representação. É dessas correntes que ainda hoje vivemos. Escusado será dizer que, se Jesus aparece inserido neste tempo-eixo, é por causa da sua continuidade com os grandes poetas de Israel, mais ou menos contemporâneos de Confúcio na Chinca, Buda na Índia, Zaratrusta no Irão, os pré-socráticos, Sócrates, Platão e os trágicos na Grécia clássica.
(…) O leitor português tem agora o privilégio de, guiado pela mão sábia de Karl Jaspers, poder dialogar com cada um deles, pondo-os a eles próprios a dialogar entre si. Um diálogo interminável, tanto mais iluminante quanto a relação com eles não poderá ficar na pura teoria, já que eles são também mestres e modelos para viver e morrer.”
in Nota de Apresentação de Anselmo Borges