Numa epifania em tempos pandémicos, imaginei um livro sobre cinema à venda nos balcões dos CTT – para muitos locais de Portugal, o único espaço de venda de livros. Imaginava uma publicação capaz de estabelecer diálogo com um qualquer cidadão que lá entrasse e que esse contacto acrescentasse um melhor domínio da linguagem cinematográfica ao leitor. Um livro sem princípio, meio nem fim, para ler de uma só vez, para ir saboreando, para saltar de página sem perder pitada, para voltar sempre.
Se era para falar da gramática cinematográfica, então, dar voz aos especialistas fazia sentido. E como o fazer, fugindo do texto académico, que implica investigação, escrita científica e tempo para o discurso? Teria de ser algo que envolvesse emotividade por parte do autor, que se lhe sentisse a paixão pelo cinema e que, num pequeno texto, explicasse que singulares estratégias artísticas utiliza o cinema para se expressar – ei-lo, por fim e para gáudio de todos.