O cinema de Cassavetes é um cinema da palavra, sem deixar, ao mesmo tempo, de ser um cinema do corpo.
[…] é a partir da tensão agonística entre a fixidez do argumento e a individualidade exacerbada da interpretação dos seus actores que os filmes de Cassavetes adquirem a tensão viva que lhes está na base. Como se diz neste livro: «essa passagem — o texto ao atravessar o actor — leva a que se crie uma tensão entre os dois, à qual a palavra resiste, e é nesse momento que a personagem nasce».
[Clara Rowland]
John Cassavetes realizou dez filmes nos Estados Unidos entre 1959 e 1984 e foi actor em muitos outros. […] É-lhe reservado, desde Shadows, o seu primeiro trabalho como realizador, um estatuto particular na História do Cinema, por ter trabalhado sempre à margem do sistema — é esse o traço pelo qual é mais evocado e relembrado, quer pela crítica, quer por realizadores, actores e cinéfilos. Por ter financiado sozinho, ou com a ajuda de amigos, praticamente toda a sua obra demonstrou que é possível fazer cinema com total liberdade criativa e que, mesmo apesar dos constrangimentos económicos que uma produção caseira inevitavelmente implica, a qualidade do resultado final não tem de sofrer necessariamente com isso. Por estes motivos, Cassavetes é considerado o pai do cinema independente.