Jorge Queiroz: «O desenho é uma forma de pensar e, talvez, a disciplina mais parecida seja a poesia, pelo poder de síntese, pela carga, pelo ritmo, pela maneira como aparece e pelo alinhamento. A poesia une a palavra ao desenho.»
Ao longo de dezasseis, dezoito, ou vinte encontros, foram gravadas cerca de dezoito horas, em que algumas das conversas seguiram pelos trilhos destinados, outras por atalhos, ou por pequenos carreiros que raiavam lentamente. Se, por um lado, a estrutura inicial tinha um percurso orientado, por outro, a conjuntura do dia, do ambiente e da disposição ditava, de encontro a encontro, um novo modelo: refazer, fazer e desfazer.
Segui o rasto e escutei atentamente as palavras de Jorge Queiroz que, aliadas às imagens e emitidas como sinais sonoros, sugeriam algo a desvendar: uma tensão nervosa entre margens de conflito. Deste modo, procurei sempre guardar todos os vestígios ou fragmentos de cada conversa. Foi uma longa e boa viagem com paragem em Algés e apeadeiros entre o Banzão, o Bairro da Graça e Alvalade, ou entre almoços e cafés para descansar e retomar o caminho; mas ela nunca deixou de ser explorada, numa tentativa de traduzir imagem em palavra. Conquistado esse território de exploração, O Som das Imagens é construído em dois momentos, funcionando como actos separados de uma só narrativa: o primeiro momento diz respeito a cada um dos capítulos que tem como título um substantivo e um verbo desenhado a quatro mãos, num jogo de palavras. O segundo momento é constituído por fragmentos que, gravados, não podiam ser abandonados. Eles funcionam como exercícios de desenho entre cada um dos capítulos, como intervalo para respirar, como pausa de um acto a encenar e/ou como um momento de silêncio sem o qual a música não existe. O Som das Imagens traz um duplo desenho: aquilo que é possível finalizar e o que não encontra em qualquer acção o seu fim.
[Cristina Robalo]