O presente livro foi publicado por ocasião da exposição Manuel Rosa — Escultura, realizada na Galeria Neupergama (Rua Serpa Pinto 10, 2350-552 Torres Novas), de 10 de Dezembro de 2022 a 20 de Maio de 2023, e constitui uma homenagem do artista a Mário Cesariny no centenário do seu nascimento.
A arte de Manuel Rosa: uma arte, como afirma Tomás Maia, «sem idade». Uma arte que «não acompanha o fim da arte, não prolonga a religião da arte». Mas que também não prolonga, no presente, a religiosidade, a simbologia religiosa, dos modelos originais inspiradores, da arte antiga. Não há nada de religioso, nenhuma referencialidade ao sagrado, nenhuma reminiscência sacra, nestes objectos escultóricos. Certo que eles evocam uma idade, ou idades, da arte em que esta não existia separada da religião, de uma forma pagã qualquer de sacralidade. Só que perderam, entretanto, para nós, essa irrecuperável vinculação semântica, semio-ontológica, dos seus modelos primitivos. Surgem-nos desnudados, obliterados desse sentido, despojados dessa sobredeterminação primeva da vontade estética. Ao mesmo tempo nem do seu tempo e do seu mundo histórico (antiguidade) nem deste tempo e desta idade da arte (contemporaneidade), estes objectos desarmam-nos, perturbam-nos, questionam a nossa ideia contemporânea de arte. A evidência desta escultura neo-arcaica, ou neo-primitiva, manifestamente anacrónica, não é a de uma geminação essencial nativa do estético e do sagrado mas, insistimos, a de uma co-originaridade espiritual da arte e do humano.
[Sousa Dias]