Crónica crepuscular, relato minucioso de um dos mais espectaculares finais de carreira de um editor (carreira já de si propensa a maus e tristes fins), este livro é-o também da grande era dos paperbacks, entre o final da II Guerra Mundial e a década de 1970, e da miríade de editoras publicando para nichos de mercado de centenas de milhar de leitores. Nos EUA, no final dos anos 60, Girodias lançou a marca Olympia nesse caldeirão, conseguindo ainda, entre títulos menores de sexplotation, marcar pontos com o S.C.U.M. Manifesto de Valerie Solanas, pouco depois de esta disparar sobre Andy Warhol, e Inside Scientology (1972), o primeiro testemunho sobre a verdadeira e insidiosa natureza da Cientologia, um livro que, como se verá, custou muito caro ao editor. “Vítima” do amaciamento da censura à literatura – contra a qual ele lutara na frente de batalha nas décadas de 1950 e 60, mas que era, ao mesmo tempo, a raison d’être do seu projecto de edição – vítima, sobretudo, de si mesmo, Girodias acabou por sê-lo também, final e definitivamente, de uma conjugação de adversários bem mais duros e ardilosos do que os juízes franceses.
Para a introdução, em vez do texto de Philippe Sollers que abre a edição original de L’Affaire Kissinger, optou-se pelo testemunho do amigo e editor de Girodias, Joaquim Vital (1948-2010), publicado num belo volume de memórias, Adieu à Quelques Personnages.