O Palácio do Riso
Germán Marín
Germán Martin
Romance de rara perfeição, O Palácio do Riso (1995) recria a história da Villa Grimaldi, um dos maiores centros de detenção e tortura no Chile durante a ditadura militar de Pinochet, também apodado jocosamente de Palácio do Riso pelos agentes da DINA, a polícia política do regime.
Outrora mansão ditosa rodeada de jardins bucólicos, viu-se mutilada por sádicos algozes e, à semelhança do seu país, desfigurada pelo negrume do tempo. Quando, vindo do exílio, um narrador revisita o edifício em ruínas, o passado feliz da casa funde-se com a barbárie e as memórias de quem enfrenta o horror de olhos bem abertos. História da decadência de um país e reflexão sobre a memória colectiva, este romance é uma viagem ao coração de um trauma pela mão de um autor que sempre condenou a ocultação de infâmias.
Figura maior das letras chilenas, Germán Marín (n. 1934) tem fama de outsider impenitente e refractário ao reconhecimento internacional. Na sua longa vida, cruzam-se as aulas de Jorge Luis Borges em Buenos Aires, a amizade de Pablo Neruda, com quem fundaria a editora Isla Negra, os textos de Gabriel García Márquez a que deu forma, antes de se tornar editor, e o supremo desgosto de poucos acreditarem que um dia dançou com Ava Gardner.
Colaborava com a editora Quimantú, apoiada por Salvador Allende, quando o golpe de Pinochet e a destruição do seu romance Fuegos artificiales (1973) o levaram ao exílio no México e em Espanha. Regressou ao Chile em 1992, e a sua obra em torno da memória colectiva, na qual se destaca a trilogia Historia de una absolución familiar, marcou profundamente a literatura chilena do século XX.