André Malraux
O papel do museu na nossa relação com as obras de arte é tão considerável que temos dificuldade em pensar que ele só existe entre nós há menos de dois séculos. Esquecemos que os museus impuseram ao espectador uma relação totalmente nova com a obra de arte. Até ao século XIX, todas as obras de arte eram a imagem de algo que existia ou não existia, antes de serem obras de arte. Só aos olhos do pintor a pintura era pintura; e, muitas vezes, era também poesia.
A Ásia só recentemente conheceu a existência de museus, sob a influência e a direcção dos europeus, porque, para o asiático contemplação artística e museu eram inconciliáveis; a fruição das obras de arte acima de tudo estava ligada ao isolamento. Há mais de um século que a nossa convivência com a arte não cessa de se intelectualizar. O museu impõe uma discussão de cada uma das representações do mundo nele reunidas, uma interrogação sobre o que, precisamente, as reúne. Afinal, o museu é um dos locais que nos proporcionam a mais elevada ideia do homem.
André Malraux nasceu em 1901 e faleceu em 1976. Foi novelista, arqueólogo, teórico da arte, activista político, e ministro francês da Cultura (entre 1959 e 1969). Nasceu em Paris, mas em 1923 foi viver para a Indochina. Utilizou a sua experiência na Ásia como pano de fundo de muitos dos seus livros. Deixou uma extensa obra sobre estética.