«Para a morte dum poeta levo angústia
fato preto e as crateras dos teus olhos
Um boquet de palavras saltitantes
flor amor amizade rapariga
madressilva guarda-chuva
coração e pé-de-salsa
Para a morte dum poeta levo aurora
madrugada tua boca meu olhar e
andorinha
levo uma saudade fina quase triste
meus dois filhos sossegados pela mão
levo os frutos das colheitas atrazadas
levo rosas de papel para os poemas
e um pouco de cal viva pró seu sexo
Para a morte dum poeta levo as ruas
onde os sonhos se estilhaçam
levo as casas onde nascem homens novos
cheios de sol e de sal cheiro de mar
levo as praias sem pègadas
ovos de tartaruga
levo os símbolos que amamos como aos objectos domésticos
hei-de levar uma lágrima se não me esquecer
Para a morte dum poeta levo angústia
e meus dois filhos pela mão
Para a morte dum poeta levo esperança»