ANDAVA COM OVELHAS E COM CABRAS
Agora de regresso ao meu país,
penso no pouco tempo que gozei.
Andava com ovelhas e com cabras
– e depois carreguei melões ao sol.
Esse filho da puta do meu chefe
roubava-me metade do salário.
Que remédio senão voltar a casa?
Só fiz um bom amigo nessa terra.
Bebemos muito vodka, noite fora,
no bar onde joguei bilhar e setas.
Aprender português não consegui
– mas ensinei, na minha própria língua,
os nomes, imagina a coisa parva,
de cada cor – no céu – do arco-íris.
Certa vez, já com vodka, vimos um.
Ele tinha interesse em saber tal,
nunca percebi bem a razão disso
– e depois convidou-me para casa.
Da cor das minhas cuecas era a capa
do livro que me deu com os seus versos.
(p.35)