“Um corpo de homem cabe dentro de um quadrado, dois corpos também. Sentados. Como um casal face a face num salão particular. Vistos de costas – como se encontram diante um do outro, só eles podem ver-se de frente -, formam um único corpo, dotado de braços e de pernas: divinizam-se e multiplicam os seus membros. Vistos de perfil são parentes dos siameses: de um só colo jorram dois bustos e dois rostos tal como nas duas extremidades do braço único se abrem duas mãos. Enquanto as costas de um apagam as do outro, de perfil separaram-se e gostariam de se confundir. Imóveis, dançam sem sair do lugar uma espécie de dança negra em que os joelhos de afastam e se juntam em acordeão, manifestando a impaciência abaixo da cintura. Entre eles o desejo cava um buraco negro.”
(p.11)