Breve, mas ilustrativa, se pretende esta Antologia de textos — historietas “infantis”, poemas, receitas culinárias, abecedários, limericks, cartas, etc. — e desenhos recolhidos de vastíssima obra do extravagante viajante Sr. Edward Lear (…).
Não fora a ofuscaste luminosidade de Lewis Carrol (e da sua/nossa Alice) e teríamos Lear como mestre por excelência do nonsense, esse humor dito ou tornado “absurdo” tão-somente por ir ali ao senso-comum e à linguagem “racional” para lhes subverter os mecanismos formatais pelo uso corrente e devolvê-los à circulação como o faria uma criança perante o caos inicial. Menos “matemático”, mais disperso e plural, mais dado ao efémero do que Carroll, Edward Lear não é porém menos pujante nas erupções do imaginário — esta de facto “à solta” (como a queriam os surrealistas) e divertindo-se tanto nos intrincados malabarismos linguísticos, autêntica metalinguagem de difícil transposição, como nos esquiços “espontâneos” com que salpica tudo o que escreve.
André Breton não o incluiu na sua algo ortodoxa Antologia do Humor Negro. Terá tido razão: que negrume se poderá detectar numa criatura que tão generosamente distribuiu alegria?”