As falenas são borboletas da noite cujos movimentos incertos surgem a partir desse fundo de obscuridade de onde elas irrompem para logo a seguir desaparecerem. Neste livro as falenas são a metáfora da imagem e do seu conhecimento, a composição oscilante dos seus processos de rememoração e impressão, dos seus modos de aparecer e saber. Em contraste, porém, com o saber que fixa e analisa o significado das imagens, como a dissecação que permite conhecer uma borboleta a custo de a imobilizar mortalmente, neste conjunto de ensaios convoca-se antes a vida ziguezagueante e instável da borboleta, pelo contributo que pode prestar a uma dialéctica da fugaz e inquieta imagem. A dança de um psicótico, o vestígio do Santo Sudário, o molde de uma jovem, a cor da grisalha, uma crono-fotografia de Marey, uma imagem do teste Roscharch, um detalhe de Velázquez, um diagrama de Beckett, um panejamento de Loïe Fuller, uma cera anatómica, um xaile judeu de oração ou uma obra de arte contemporânea, são outros tantos pontos de partida para a sempre delicada, frágil e incerta investigação que procura conhecer o acto de «fazer imagem». Em Falenas, Didi-Huberman aprofunda e alarga a convicção já apresentada em obras como Imagens apesar de tudo e Atlas ou a Gaia Ciência Inquieta, onde o que está em jogo é nada mais nada menos que o conhecimento histórico e o papel das imagens nessa delicada construção que implica o nosso sentido do presente e perspectiva de futuro. No bater de asas das falenas pulsa o tempo histórico e a contemporaneidade, com já acontecia com o Angelus Novus de Paul Klee que Benjamin comentou – referência fundamental de Didi-Huberman -, em trânsito entre o passado e o futuro.
Georges Didi-Huberman (n. 1953), filósofo e historiador, leciona antropologia do visual na École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris. É autor de mais de 30 títulos, dedicados ao estudo de autores tão diversos como Bataille, Boticelli, Brecht, Giacometti, Marey e Turrel, entre os quais se destacam importantes obras teóricas, Invention de L’Hystérie (Macula, 1982), Devant l’image (Minuit, 1990), Devant le temps (Minuit, 1992). Em L’image survivante (Minuit, 2002) analisa o pensamento de Aby Warburg à luz dos âmbitos disciplinares e dos distintos procedimentos que nele se operam. No seu livro Atlas ou a Gaia Ciência Inquieta (KKYM, 2013) mostra como os processos de montagem e os pressupostos epistemológicos e críticos das imagens se constituem numa forma visual e poética da conhecimento aberta à legibilidade do tempo e do mundo.