«A superfície mais apaixonante da terra é o rosto humano» – o aforismo de Lichtenberg, que Belting coloca em epígrafe, marca o tom cativante e provocador da sua pesquisa a partir da qual interroga a universal singularidade da face humana ao longo dos tempos. Onde quer que apareça a imagem do homem, o rosto pulsa como o seu foco central. Todavia, a vitalidade do rosto desafia todas as tentativas em o definir e fixar. A história do rosto começa com as primeiras máscaras da Idade da Pedra e culmina, na nossa época, com rostos digitalmente fabricados, nos quais permanece o seu actuante enigma. O rosto é aqui encarado como meio de interação social, de questionamento individual (no autorretrato), objeto de produção industrial e de desenfreado consumo mediático; é analisado através dos seus avatares, máscara artificial e máscara natural, em perspectiva histórica, antropológica, filosófica e etnográfica. No livro percorrem-se temas como a máscara funerária, a fisiognomia, a função jurídica do retrato na Roma antiga, a retratística do Renascimento, a busca do Si-mesmo, o papel do actor na dramaturgia moderna, o «adeus» ao rosto em Rilke e Artaud, a desfiguração em Francis Bacon e Arnulf Rainer, os avanços da neurologia e o arquivo policial, ou ainda, o ícone religioso e as caras das celebridades, a museografia colonial e o vídeo de Nam June Paik, o ícone Mao segundo Warhol e a «estranheza» do rosto em Jorge Molder, o cinema de Ingmar Bergman, de Serguei Eisenstein e o arquivo de Boltanski, o grande plano cinematográfico e as teses de Deleuze, e, por fim, o domínio dos mass media e a manipulação digital da cyberface.