“Imaginava que ia dar de caras com um mandarim ou com um rato de biblioteca caixa de óculos, ora o professor Líng era um homem relativamente jovem, de compleição atlética, que falava alto e ria por tudo e por nada. Antes de ter podido formular uma pergunta, o sujeito saúda-o com familiaridade e afirma que a reconhece, sem se ofender com o facto que a recordação não seja recíproca, e explica-lhe sem cerimónias que cresceu em Paris onde os seus pais eram funcionários da embaixada, que frequentou a escola francesa mas preferiu aproveitar o seu bilinguismo para estudar chinês na universidade, que teve o professor “Jupon” como director de investigação ao nível do mestrado, que surgiram alguns motivos de litígio entre eles a propósito de literatura mas que a inimizade virara ódio quando o dito professor lhe roubou a namorada. Regressado à China após os seus estudos, tendo os pais pedido a reforma depois do falecimento da avó materna a fim de ocuparem a mansão senhorial que doutro modo teria sido confiscada pelo Estado, tinha assistido ao colóquio em que a professora se tinha desforrado do douto parisiense e ficara tão contente com o desamparo do seu ex-professor que anotara imediatamente o poema que ela citara como contra exemplo”.
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