O QUE EU DEVERIA TER SIDO
Não há nada que digas que não possas
ligar. Passo os dias da semana a dar aulas
e a transferir os meus filhos do pequeno-almoço
para a hora de dormir. Além disso, sinto-me uma traidora
ao contar a outra pessoa coisas que não posso
contar-te. O que será que nos mantém juntos?
De uma ponta de dedo a outra, de Santa Fé
a Albuquerque?
Sinto-me a abarrotar do que deveria dizer
e não digo. Vamos vagueando, com
umas quantas ondas de calor entre as deslocações.
Amo-te. As palavras baralham-me.
Talvez se tenham tornado uma almofada
que nos mantém num céu azul e a voar
nem ali nem aqui.
Somos cavalos que ficaram inconscientes com tranquilizantes
sugados para um profundíssimo sono por comodidade
e uma morte anestésica. Estamos entalados entre
nuvens e terra húmida
e não há movimento
para lado nenhum
nenhuma vida
digna de nota.