Tendo como denominador comum algumas obras de Domenico Ghirlandaio, a presente seleção de ensaios dá-nos conta do dinamismo do pensamento de Warburg, sempre aberto e em movimento, capaz de associar tanto o trabalho visual da pintura, o contexto sócio-político e a historia familiar e pessoal, resgatada dos arquivos e dos documentos, como de relacionar a cultura literária e o imaginário religioso e popular da época, reportadas a práticas coevas e antigas.
Assim, a Ninfa que irrompe no fresco da Capela Tornabuoni, a arte do retrato que atrai a antiguidade do “realismo”, o testamento de Francisco Sassetti deixado aos seus filhos ou, ainda, o memorial que constitui, pela primeira vez, a antecipação do famoso Atlas Mnemósine e uma possível chave para a sua leitura. Neste trajecto de investigação interroga-se a fundo a imaginação visual do Renascimento florentino – a alegoria da Fortuna, as figuras votivas em cera, a arte viva do retrato, a tradição medieval, a irrupção do clássico, o sentimento religioso e o paganismo -, ao mesmo tempo que se constroem vias interpretativas alternativas à dona da história da arte, em relação à qual, pontualmente, Warburg se insurge. Por esta via, chega-se perto, muito perto mesmo, do trabalho da imaginação que as obras de Ghirlandaio compreendem, ou seja, à sua parte sobre-determinada, aos aspectos de intensidade e patos, frequentemente contraditórios, que informam a sua génese e sobrevivência histórica, aspectos de transformação e transmissão onde se enreda o desejo e o destino das próprias imagens.Aby Warburg (1866-1929), historiador de arte e da cultura, judeu de sangue, hamburguês de coração e de alma florentina, fundou em Hamburgo a Kulturwissenschaftlichen Biblioteca, que acolheu Bing, Saxl, Cassirer e Panofsky, mais tarde transferida para Londres dando lugar ao Warburg Institute, instituição que Gombrich dirigirá durante décadas.
Centrado sobre o tema do influxo do paganismo na arte do Renascimento, Warburg cunhou as noções de fórmula-de-pathos, sobrevivência e polaridade, manifestando uma marcada atenção em relação ao conceito de empatia, no que este tem de formador e de transformador. Ao alargar, conceptual e metodologicamente, o âmbito da investigação em arte, inventou no seu tempo e para o nosso tempo um novo saber das imagens. Com efeito, Botticelli, Ghirlandaio, Leonardo, Durer e Rembrandt, a Ninfa, os gestos, a caricatura e a astrologia, a psicologia dos estilos, a teoria da memória e a antropologia dos mitos, convergem para a constituição de uma disciplina sem nome que rompe com os modelos da tradição historiográfica, em favor de um pensamento sempre em devir, atento ao anacronismo e à heterogeneidade dos materiais que constituem as imagens.
Aby Warburg (1866-1929), historiador de arte e da cultura, judeu de sangue, hamburguês de coração e de alma florentina, fundou em Hamburgo a Kulturwissenschaftlichen Biblioteca, que acolheu Bing, Saxl, Cassirer e Panofsky, mais tarde transferida para Londres dando lugar ao Warburg Institute, instituição que Gombrich dirigirá durante décadas.
Centrado sobre o tema do influxo do paganismo na arte do Renascimento, Warburg cunhou as noções de fórmula-de-pathos, sobrevivência e polaridade, manifestando uma marcada atenção em relação ao conceito de empatia, no que este tem de formador e de transformador. Ao alargar, conceptual e metodologicamente, o âmbito da investigação em arte, inventou no seu tempo e para o nosso tempo um novo saber das imagens. Com efeito, Botticelli, Ghirlandaio, Leonardo, Durer e Rembrandt, a Ninfa, os gestos, a caricatura e a astrologia, a psicologia dos estilos, a teoria da memória e a antropologia dos mitos, convergem para a constituição de uma disciplina sem nome que rompe com os modelos da tradição historiográfica, em favor de um pensamento sempre em devir, atento ao anacronismo e à heterogeneidade dos materiais que constituem as imagens.