Os textos que agora se reúnem em livro foram originalmente publicados, com periodicidade mensal, a partir de Novembro de 2021, no site de cinefilia À Pala de Walsh, sob a forma de crónicas cujo sopro inicial partiu de versos de António Franco Alexandre — «E falta-me esta imagem para ter / inteiro o álbum que me coube em sorte» —, nos quais surgiu o motivo para o título da série. […] A presente edição, adoptando o título Do Álbum Que Me Coube em Sorte da segunda série de crónicas e mantendo a remissão para o cinema como metamorfose da experiência interior, que o subtítulo do livro conserva, retoma, com as correcções trazidas pela revisão, os textos que se projectaram como uma variação da afirmação de Guido Ceronetti segundo a qual «a mulher é imagem», que Maria Filomena Molder me assinalara, sendo que, considerado o resultado da metamorfose propiciada por essa experiência de espectador de cinema, o que acabou por ser trazido à superfície — a bem dizer, a esse ecrã em que as imagens se sustêm de forma cristalizada, irredutivelmente fragmentária — são presenças reais, que se impõem ao amor de um fetichista, que os versos de António Franco Alexandre me induziram a tomar por imagens do álbum que me coube em sorte.[José Bogalheiro]
José Bogalheiro é investigador integrado do CIAC – Centro de Investigação em Artes e Comunicação e professor coordenador jubilado do Departamento de Cinema da ESTC – Escola Superior de Teatro e Cinema, instituição em que, entre 1981 e 2020, lhe coube também desempenhar cargos de direcção, nomeadamente, como vogal da Comissão Instaladora e como director do Departamento de Cinema. Na actividade profissional no cinema exerceu várias funções, com destaque para as de produtor na Trópico Filmes. Na Documenta, publicou Empatia e Alteridade: A Figuração Cinematográfica como Jogo (2014) e Se Confinado Um Espectador: O Cinema como Metamorfose da Experiência Interior (2022) e editou, com Manuel Guerra, Descasco as Imagens e Entrego-as na Boca: Lições António Reis (2020).