A literatura nunca deixou de ser, na minha escrita, possível, mas a palavra literária (a palavra poética) ter-se-á esgotado excessivamente a convocar o ser e o mundo (a ser ser e mundo) e terá, a certa altura, caído em si, percebendo que talvez se tivesse negligenciado como instância, também, e mais modestamente, de nomeação do ser e do mundo, e experimentando então «saudades da prosa». Mas tenho, de facto, consciência de que, desde Cuidados Intensivos (ou, talvez antes, desde Farewell Happy Fields), existe na minha escrita uma espécie de reconciliação com a literatura (com a poesia), que passa tanto pela aceitação dos seus processos como da sua memória.
Um dos últimos poemas que escrevi fala das «minhas últimas palavras», aquelas que, «por cansaço, por inércia, por acaso», foram ficando, e com quem, agora, «como velhos amantes sem desejo» desfio memórias.